9 de mai. de 2011

A bela fotografia de Árido Movie

Concordo com a idéia de que o melhor cinema feito hoje, no Brasil, não está no Rio ou em São Paulo..
Grandes filmes e grandes cineastas deram ao Nordeste grande reconhecimento, contando apenas o seu cotidiano... a seca, o cangaço, o sexo, a sujeira.. são esses temas normalmente citados nos filmes dessa região...

Um dos filmes que se destaca muito é o Árido Movie, filme de 2004 do diretor Lirio Ferreira, talvez esse seja um dos filmes mais "Nordestinos" que já vi... como o próprio nome já diz, sem referências... é um filme Árido, não só pelo cenário que o filme acontece (uma cidadezinha chamada vale do rocha), mas também porque mostra essa aridez em diversos fatores humanos e sociais, misturando o psicodelismo e a loucura com a mais crua realidade, Lirio consegue causar a mesma sensação de estranheza sentida por Jonas (Guilherme Weber), quando seu pai Lázaro (Paulo César Peréio) é assasinado no vale do rocha, é ai então que Jonas é praticamente obrigado a largar a cidade de São Paulo para participar do enterro do pai, que não vê a mais de 25 anos... ele é um estranho dentro daquela rotina, um estranho naquela vida, mas na verdade Jonas é muito intimo de todas aquelas pessoas, primeiro por ser filho de Lázaro, e segundo por aparecer todos os dias na tv, como Homem do Tempo...

Agora vamos falar de fotografia.

O trabalho realizado por Walter Carvalho no longa foi fantástico, levando diversos prêmios de fotografia ao filme.

São Paulo tem sempre um tom azul escuro e o velório de Lázaro, também bastante escuro, lembra a fotografia de Gordon Willis para “O Poderoso Chefão” (1972). Não por acaso: a estrutura de poder de famílias como a do filme no Nordeste é muito similar à da máfia.

Ainda sobre a fotografia, vale destacar que qualquer verde é sempre desbotado e a luz sobre Meu Velho (José Celso Martinez Corrêa) é branca e fria, o que lhe confere um caráter etéreo. Outra questão interessante é a falta de foco no início. Jonas só ganha nitidez quando aparece no televisor do hotel em que seu pai é assassinado, em Rocha. A partir desse fato, terá início um processo de autoconhecimento e de conhecimento do personagem pelo público. A rede de televisão integra Sudeste e Nordeste, filho e pai. É um símbolo de modernidade em um mundo marcado pela tradição.


Assim como a fotografia, merece destaque a montagem de Vânia Debs, que sobressai na cena em que Madame Bernadete tem suas visões. Nessa cena, também são notáveis os movimentos de câmera. A seqüência na plantação de maconha em que os amigos de Jonas são surpreendidos por capangas da família dele também é muito bem montada. Os "jump cuts" na conversa entre Márcio Greyck e Jonas sobre o ato de matar, e na dança, entre Falcão e Verinha, são empregados com maestria, dando dinamismo às cenas, assim como os campos e contracampos contínuos, sem cortes, em determinados momentos.

São elementos de linguagem que remetem a Godard, uma das principais referências do filme, ao lado de Orson Welles, do Cinema Marginal e, é claro, de Tarantino. As alucinações têm como referência “Sem Destino” (1969), dirigido por Dennis Hopper, também um "road movie". As rochas de Rocha lembram o Monument Valley imortalizado por John Ford. Apesar da referência, não há tanta proximidade em relação a Glauber. “Árido Movie” destaca-se em relação à ressaca cinema-novista atual, trata os problemas do Nordeste de maneira diferente. Se não alcança plenamente seus objetivos, pelo menos abre um caminho alternativo.





6 de mai. de 2011

Movimentos Cinematográficos

Em muitos casos os movimentos revolucionários se perdem e entram num fade - out de idéias e principios; Seja na arte, na politica , ou em qualquer outra forma de manifestação social, uma reunião de pessoas que pensam em formas de atingir objetivos comuns é chamada de movimento.

No caso do cinema não é diferente, presenciamos muitos deles e a verdade é que esses movimentos deixaram rastros e influências seguidas até hoje, mesmo que subconscientemente.

Vamos falar do Dogma 95, movimento do cinema dinamarquês , criado pelos diretores Lars Von Trier e Thomas Vinterberg, assim como o cinema novo brasileiro, os fundamentos do Dogma 95 iam de contra a um cinema comercial que iludia o espectador, a idéia é que com algumas regras técnicas, eles conseguissem fazer um cinema mais realista.

Utilizando de referência vários outros movimentos cinematográficos, como a Novelle Vague e o próprio cinema novo, o Dogma queria que os filmes perdessem toda aquela estrutura industrial imposta por Hollywood, mas para isso precisariam não apenas mudar roteiros e diminuir funções , seria nescessário que algumas regras técnicas fossem criadas, ai então que os dois diretores se uniram e escreveram o manifesto
datado de 13 de março de 1995, o movimento Dogma 95 foi apresentado ao grande público em um simpósio internacional sobre cinema organizado pelo Ministério da Cultura da França em 20 de março de 1995. Um curto período de tempo — apenas sete dias — separa o ato de colocar no papel idéias, do ato de divulgá-las como revolução.

O Manifesto é constituído de um conturbado texto que mais se assemelha a um desabafo. Um desabafo contra a “cosmetização” dos filmes e sua conseqüente capacidade de iludir quem assiste; um repudio ao cinema como obra de arte, retirando do diretor qualquer poder como autor; além de invocar uma disciplina a democratização alcançada graças a avanços tecnológicos, como o cinema digital. O manifesto apresenta o intitulado Voto de Castidade que prega 10 regras que devem ser seguidas para se adequar ao cinema proposto pelo Dogma 95.

  • As filmagens devem ser feitas em locais externos. Não podem ser usados acessórios ou cenografia (se a trama requer um acessório particular, deve-se escolher um ambiente externo onde ele se encontre).
  • O som não deve jamais ser produzido separadamente da imagem ou vice-versa. (A música não poderá, portanto, ser utilizada, a menos que não ressoe no local onde se filma a cena).
  • A câmera deve ser usada na mão. São consentidos todos os movimentos - ou a imobilidade - devidos aos movimentos do corpo. (O filme não deve ser feito onde a câmera está colocada; são as tomadas que devem desenvolver-se onde o filme tem lugar).
  • O filme deve ser em cores. Não se aceita nenhuma iluminação especial. (Se há luz demais, a cena deve ser cortada, ou então, pode-se colocar uma única lâmpada sobre a câmera).
  • São proibidos os truques fotográficos e filtros.
  • O filme não deve conter nenhuma ação "superficial". (Em nenhum caso homicídios, uso de armas ou outros).
  • São vetados os deslocamentos temporais ou geográficos. (Isto significa que o filme se desenvolve em tempo real).
  • São inaceitáveis os filmes de gênero.
  • O filme deve ser em 35 mm, standard.
  • O nome do diretor não deve figurar nos créditos.
Hoje os próprios fundadores desse manifesto e do movimento já não trabalham mais tão a favor disso, para alguns fanáticos, eles foram contra o movimento, para outros, eles apenas se adequaram... agora.. criticar essas mudanças de atitudes e idéias é um ato complicado, já que as pessoas amadurecem e as idéias podem sim mudar.
Avalio todo esse movimento e esse desmovimento como uma coisa fantástica, um ato revolucionário, não importa se hoje isso já não é mais seguido à risca, o que importa é que naquele momento isso funcionou.
Sem dúvida por mais esquecido que esteja um movimento ou qualquer outra manifestação, eles foram marcantes, pois a essência dessas atitudes é que são fundamentais nos chamados processos artísticos.

"O que interessa é a criação. A linguagem estabelecida em qualquer arte, cansa."


Essa afirmação de Glauber Rocha revela bem seu espirito de enfant terrible do cinema brasileiro: em sua obra sobressai o aspecto experimental, delirante e moderno de uma linguagem inventada e reinventada para exprimir sua experiência do mundo, seus conflitos ideológicos e suas próprias ambiguidades.

Cabeça do cinema novo brasileiro, Glauber é hoje considerado um dos mais brilhantes representantes do cinema político no mundo. Seu reconhecimento internacional ocorreu cedo em sua carreira, embora, em sua própria terra natal, ele tenha sido muitas vezes incompreendido, julgado incoerente e mesmo odiado. Isso, porém, não o impedia de continuar sua batalha político-cultural, afinal, como dizia, "é uma função digna do cinema mostrar o homem ao homem".

"O ser humano é estômago e sexo"

A fotografia de Amarelo Manga

É fascinante como cores e formas podem contar histórias, expressar sentimentos e dispertar curiosidades... o papel da fotografia no cinema é de extrema importância, na verdade esse é o contato direto do público com a obra, através da imagem.
É de extrema importância que um diretor de fotografia esteja totalmente envolvido no projeto e entenda a cara, a cor e o cheiro do filme, é ai que ele entra com seu trabalho, dando cor,formas e expressões a um roteiro, a uma fala, a um texto...

Um dos profissionais mais brilhantes do nosso cinema é diretor de fotografia Walter Carvalho, não apenas pela sua função visual na obra, mas por também ser um diretor brilhante, com filmes que são verdadeiras obra de arte do nosso cinema.

Mas estou aqui pra falar de Amarelo Manga, Filme de 2003 do diretor Cláudio Assis e fotografado por Walter. As cores e a luz desse filme são fantásticas, paredes escurecidas, escarros, sangue, dentes amarelos, remelas... o sujo está muito presente nas cenas, e encanta... encanta pois apesar de ser real, cru, é bonito se analisado de forma técnica... Não é um filme para ser visto como passatempo, ou apenas um filme... é um filme para ser estudado, entendido e discutido. Walter Carvalho assumiu e conseguiu levar as telas o estado mais simples da vida daquelas pessoas, a atmosfera visual, já consegue nos dizer muito do que o diretor quis. Se Amarelo Manga fosse um filme mudo, entenderiamos perfeitamente a proposta, pois as imagens são claras e objetivas, é o Cru Artístico, tipo de trabalho muito complicado de ser feito.

Vamos começar essa bagaça...

Um dos artistas mais influentes no meu trabalho, sem dúvidas é o maior e melhor câmera que o Brasil ja teve, não só pelos seus planos complicadissimos nem pela sua caracteristica câmera na mão... Não que isso não tenha seu valor... mas DIB LUTFI é mais que isso, ele é a cara do cinema novo , é a representação visual disso , é a interpretação do lema "Uma câmera na mão e uma idéia na cabeça" foi a concretização de idéias de diretores como Glauber Rocha, Arnaldo Jabor, Ruy Guerra, Eduardo Coutinho e Nelson Pereira dos Santos.

Não preciso dizer mais nada, Dib Lutfi é o cinema novo e ponto ele é a representação mais clara e sincera desse movimento


Fuçando pelo youtube encontrei esse belissimo documentario sobre o Dib, com diretores, atores e o próprio Dib.

Vale Muito a Pena