Grandes filmes e grandes cineastas deram ao Nordeste grande reconhecimento, contando apenas o seu cotidiano... a seca, o cangaço, o sexo, a sujeira.. são esses temas normalmente citados nos filmes dessa região...
Um dos filmes que se destaca muito é o Árido Movie, filme de 2004 do diretor Lirio Ferreira, talvez esse seja um dos filmes mais "Nordestinos" que já vi... como o próprio nome já diz, sem referências... é um filme Árido, não só pelo cenário que o filme acontece (uma cidadezinha chamada vale do rocha), mas também porque mostra essa aridez em diversos fatores humanos e sociais, misturando o psicodelismo e a loucura com a mais crua realidade, Lirio consegue causar a mesma sensação de estranheza sentida por Jonas (Guilherme Weber), quando seu pai Lázaro (Paulo César Peréio) é assasinado no vale do rocha, é ai então que Jonas é praticamente obrigado a largar a cidade de São Paulo para participar do enterro do pai, que não vê a mais de 25 anos... ele é um estranho dentro daquela rotina, um estranho naquela vida, mas na verdade Jonas é muito intimo de todas aquelas pessoas, primeiro por ser filho de Lázaro, e segundo por aparecer todos os dias na tv, como Homem do Tempo...
Agora vamos falar de fotografia.
O trabalho realizado por Walter Carvalho no longa foi fantástico, levando diversos prêmios de fotografia ao filme.
São Paulo tem sempre um tom azul escuro e o velório de Lázaro, também bastante escuro, lembra a fotografia de Gordon Willis para “O Poderoso Chefão” (1972). Não por acaso: a estrutura de poder de famílias como a do filme no Nordeste é muito similar à da máfia.
Ainda sobre a fotografia, vale destacar que qualquer verde é sempre desbotado e a luz sobre Meu Velho (José Celso Martinez Corrêa) é branca e fria, o que lhe confere um caráter etéreo. Outra questão interessante é a falta de foco no início. Jonas só ganha nitidez quando aparece no televisor do hotel em que seu pai é assassinado, em Rocha. A partir desse fato, terá início um processo de autoconhecimento e de conhecimento do personagem pelo público. A rede de televisão integra Sudeste e Nordeste, filho e pai. É um símbolo de modernidade em um mundo marcado pela tradição.
Assim como a fotografia, merece destaque a montagem de Vânia Debs, que sobressai na cena em que Madame Bernadete tem suas visões. Nessa cena, também são notáveis os movimentos de câmera. A seqüência na plantação de maconha em que os amigos de Jonas são surpreendidos por capangas da família dele também é muito bem montada. Os "jump cuts" na conversa entre Márcio Greyck e Jonas sobre o ato de matar, e na dança, entre Falcão e Verinha, são empregados com maestria, dando dinamismo às cenas, assim como os campos e contracampos contínuos, sem cortes, em determinados momentos.
São elementos de linguagem que remetem a Godard, uma das principais referências do filme, ao lado de Orson Welles, do Cinema Marginal e, é claro, de Tarantino. As alucinações têm como referência “Sem Destino” (1969), dirigido por Dennis Hopper, também um "road movie". As rochas de Rocha lembram o Monument Valley imortalizado por John Ford. Apesar da referência, não há tanta proximidade em relação a Glauber. “Árido Movie” destaca-se em relação à ressaca cinema-novista atual, trata os problemas do Nordeste de maneira diferente. Se não alcança plenamente seus objetivos, pelo menos abre um caminho alternativo.

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